Frente à postura iraniana de não abrir suas fronteiras para análise do urânio que o país vem desenvolvendo — seja para fins armamentistas ou para produção de eletricidade —, os Estados Unidos têm se constipado, num mal estar que reverbera por todo o Ocidente. A especulação de que o Teerã esteja enriquecendo urânio com fins armamentistas é o argumento central de Washington para buscar aliados, inclusive em terras tupiniquins, intencionando que o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) crie sansões freando os interesses de Mahmoud Ahmadinehad, presidente iraniano.
O Brasil, que nos últimos anos estabeleceu relações positivas com o Irã, e que também desenvolve análises semelhante de enriquecimento de urânio — contudo a portas abertas para inspeção internacional, desde que seja mantido o sigilo tecnológico do processo —, defende o direito iraniano de desenvolver o programa, respeitando, contudo, o TNP (Tratado de Não-Proliferação Nuclear). Neste cenário arisco, há ainda o estopim maior: a visita que o presidente Lula fará ao Irã, entre os dias 16 e 17 de maio, para tratar especificamente do caótico assunto, que pouco agrada os americanos.
Vale ressaltar a pontinha de inveja norte-americana no caso, já que a tecnologia empregada pelo Brasil e pelo Irã nos processos com o urânio é segredo de estado — e está longe de ser decifrado.
Tio Sam apontando o dedo
Em meio a este cenário, os EUA resolveram agir. Não foram poucas as tentativas de angariar adeptos à sua visão maléfica do Irã. É claro que a terra do Tio Sam não está sozinha nessa. Eles contam com o apoio de franceses, alemães e ingleses numa campanha internacional para impor as sanções à antiga Pérsia.
Contudo, a prata da casa é que mais advoga pela causa do governo do presidente Barack Obama. O democrata Eliot Engel, presidente do subcomitê de Hemisfério Ocidental no Congresso americano e copresidente do Brasil Caucus, grupo de parlamentares interessados nas relações bilaterais, chamou, no início deste mês, de “vergonhosa” a atitude brasileira de receber o presidente iraniano meses atrás, segundo o jornal O Estado de São Paulo.
A secretária de Estado norte-americana, Hilary Clinton, em visita ao Brasil em meados de março último, também jogou suas fichas. “Só depois que tivermos aprovado sanções no Conselho de Segurança o Irã irá negociar de boa fé”, disse em entrevista coletiva, segundo o portal O Globo. O principal assessor de Obama para a América Latina, Daniel Restrepo, também defendeu sua pátria. "Por meio de seu engajamento com o Brasil e outros países, os iranianos tentam ganhar tempo", disse, de acordo com O Estado.
A maior preocupação do governo de Washington e de seus compatriotas parece ser, de fato, que a hegemonia psicológica americana em relação a assuntos da ordem mundial — exercida há tantos anos — caia por terra. Isso por conta do diálogo que Lula vem estabelecendo com o resto do mundo, buscando minimizar a postura estadunidense. Rússia e China, que tem poder de veto das sanções no Conselho da ONU, já deixaram claro que não querem encostar o Irã na parede e, por isso, a campanha de Lula corre bem. Na última quinta, 13, inclusive, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, apoiou a postura brasileira. “Os russos veem favoravelmente a ida do presidente Lula ao Irã e acompanham com interesse os esforços para abrir espaço para o diálogo”, afirmou segundo a Agência Brasil.
Lula messiânico
Lula deixou explicito que quer defender antes de mais nada o direito iraniano — e brasileiro — de enriquecer urânio. "Eu quero para o Irã o que eu quero para o Brasil", disse na última quarta-feira, 12. "Não tenho outro compromisso com o Irã a não ser o compromisso de tentar convencer o Irã de que a paz é melhor do que a guerra", esclareceu.
Em nome da paz ou não, é notório que o presidente tupiniquim ganhou os holofotes da imprensa mundial por conta de sua postura paternalista com o Irã. E isto já começa a reverberar agruras visíveis. Nesta sexta-feira, 14, o embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, disse ao jornal Financial Times que “à medida que o Brasil se torna mais afirmativo globalmente e começa a mostrar sua influência, vamos trombar com o país em novos temos — como o Irã, o Oriente Médio, o Haiti”, conforme informações da BBC Brasil.
Seja por postura estratégia ou não, está posição terá um preço. Resta saber o quão alto ele será, caso Lula e seu sorriso quase simplório consigam desenhar, de fato, uma nova ordem mundial.
Comentários
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