"Às vezes acreditamos conhecer-nos no tempo, ao passo que se conhece apenas uma série de fixações nos espaços da estabilidade do ser, de um ser que não quer passar no tempo, que no próprio passado, quando vai em busca do tempo perdido, quer suspender o vôo do tempo."
Bachelard
Bachelard
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"Felicidade não é uma coisa, é um pensamento. Não é um fato, é uma invenção. Não é um estado, é uma ação. O princípio do prazer contra o universo, e o universo é mais forte. A felicidade não passa de um sonho cuja realização é absolutamente irrealizável: toda ordem do universo se opõe a ela, seríamos tentados a dizer que não entrou no projeto da criação o homem ser feliz."
Ronaldo Arnoni
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O homem do excesso. O homem da ilusão. O homem pretenso a ser livre. Eis o homem pós-moderno!
Em nome do excesso vivido nos dias atuais, o homem criou a ilusão de que a felicidade poderia ser tangível, encontrada em qualquer supermercado numa embalagem plástica. No entanto, ao comprarmos o produto e não encontrarmos esta felicidade, tornamo-nos risíveis, frágeis – consumindo qualquer outra coisa para tocar o intocável.
Construindo sua visão de mundo baseada nesta liberdade e no desejo de ser feliz, o ser humano pergunta-se: o que fazer com isto? Em nome da felicidade estarei eu sozinho? Sou igual a todos? Ou posso, efetivamente, entender o que representa esta felicidade coletiva?
Compreendendo que não só a felicidade, mas a vida como um todo não passam de representações, podemos ver o mundo de forma mais simples, o que nos levaria a enxergar o homem mais próximo do seu “eu”.
No entanto, o que são as representações?
Immanuel Kant via a possibilidade de pensar a representação como conhecimento, separando as coisas entre a priori – a idéia que se faz das coisas sem vivenciá-las; o conhecimento metafísico – e a posteriori – o conhecimento contido na experiência empírica, no conceito vivido. Porém, o pensador entendia que as representações do mundo criadas a priori não permitiam que, a posteriori, vivêssemos a coisa-em-si; uma vez que os conceitos pré-formulados bloquearam a sensibilidade no momento de conhecer o empírico, mesclando em uma linha tênue o que é a priori e o que é a posteriori.
No entanto, o que são as representações?
Immanuel Kant via a possibilidade de pensar a representação como conhecimento, separando as coisas entre a priori – a idéia que se faz das coisas sem vivenciá-las; o conhecimento metafísico – e a posteriori – o conhecimento contido na experiência empírica, no conceito vivido. Porém, o pensador entendia que as representações do mundo criadas a priori não permitiam que, a posteriori, vivêssemos a coisa-em-si; uma vez que os conceitos pré-formulados bloquearam a sensibilidade no momento de conhecer o empírico, mesclando em uma linha tênue o que é a priori e o que é a posteriori.
Já o discípulo de Kant, Arthur Schopenhauer, entendia que a coisa-em-si não era nada além da vontade. A experiência interna do indivíduo permitiria, segundo o pensador, o movimento de si mesmo; criando representações do mundo e vivenciando-as de acordo com a objetividade de sua vontade.
Henri Lefebrve compreende que as representações são fatos ou fenômenos de consciência, individual e social, que acompanham uma palavra – ou uma série de palavras – e um objeto – ou uma constelação de objetos – em uma sociedade e em uma língua determinada.
A linha de Lefebrve vai ao encontro com a de Michael Foucault, na questão das palavras. Para Foucault, as palavras têm a tarefa e o poder de representar o pensamento. Mas esta representação deixa um vão entre o indivíduo e a verdade do mundo, já que a linguagem representa o pensamento, e o pensamento representa a si mesmo para cada ser.
Na prática, as representações
Observando nosso cotidiano, podemos encontrar a representação em funcionamento. Um exemplo claro é quando escolhemos um produto de uma determinada marca para comprar. Neste momento misturamos a realidade do que é efetivamente o produto com a nossa expectativa. Impõe-se aí a representação de tendência, atribuindo dimensões muito maiores a produto e marcas específicas. O fetichismo dito por Marx já denunciava essa representação da mercadoria como algo vivo, e que tomaria proporções muito maiores, principalmente, por haver relações de poder entre quem vende e quem compra o produto.
Na prática, as representações
Observando nosso cotidiano, podemos encontrar a representação em funcionamento. Um exemplo claro é quando escolhemos um produto de uma determinada marca para comprar. Neste momento misturamos a realidade do que é efetivamente o produto com a nossa expectativa. Impõe-se aí a representação de tendência, atribuindo dimensões muito maiores a produto e marcas específicas. O fetichismo dito por Marx já denunciava essa representação da mercadoria como algo vivo, e que tomaria proporções muito maiores, principalmente, por haver relações de poder entre quem vende e quem compra o produto.
O mesmo pode ocorrer com a nossa saúde. Quando se espera que um medicamento alivie a dor, cria-se a representação de que ao tomá-lo, instantaneamente, estaremos melhores. E é o que realmente ocorre, visto que nosso corpo produz substâncias que aliviam a dor antes mesmo do remédio, de acordo com a representação que criamos. O corpo atende a expectativa criada.
Valores são impostos com as representações na sociedade pós-moderna. Há um intenso culto de valorização do corpo e da sexualidade, revelando um sentimento imediato de felicidade e satisfação. A glamourização do que é "agora e utilitário" colabora para o abandono do interesse social, para o crescimento do individualismo e a banalização da vida. Em prol deste imediatismo mostrado no consumo, cria-se uma alienação política e ideológica, onde o único resultado que se pode obter é o de pessoas fúteis, inconsistentes e ocas.
Superam-se as representações?
Entender que a representação é a arte do verossímil seria a melhor forma de aproximar o ser humano de sua real essência. Não devemos analisar as representações como verdadeiras ou falsas, mas sim escapar das representações enganosas, que fragmentam o homem transformando-o em um robô de si mesmo, um simulacro de um príncipe encantado que apenas repete o que lhe é imposto.
Superam-se as representações?
Entender que a representação é a arte do verossímil seria a melhor forma de aproximar o ser humano de sua real essência. Não devemos analisar as representações como verdadeiras ou falsas, mas sim escapar das representações enganosas, que fragmentam o homem transformando-o em um robô de si mesmo, um simulacro de um príncipe encantado que apenas repete o que lhe é imposto.
O homem acaba se perdendo diante dos excessos, não aceitando um mundo irracional e sempre criando representações para preencher o vazio e o medo do desconhecido. Aceitar sua incompletude, sua imperfeição e sua insatisfação constantes poderia quebrar as representações e permitir que o homem se veja nu em seu espelho.
O capitalismo e o poder desfilam aos olhos da humanidade a necessidade de postergar qualquer dor, fazendo-nos acreditar que não existe nada além das representações que vemos. Aceitamos viver assim, restringindo-nos a obrigação, sublimando-nos em nome de quem está no poder.
Em contraponto, pode-se pensar que o esclarecimento do mundo traria uma calamidade triunfal. O homem totalmente esclarecido poderia sentir o desencantamento da vida, pondo fim às utopias e ao imaginário. Se este senso de incompletude terminasse, algo mudaria?
Comentários
Ronaldo Arnoni, in Os anjos não se apaixonam.
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Precisa falar mais alguma coisa?
Beijos (e um quase sorriso).