Àquela hora da noite nada deveria abalar o pensamento de um cidadão padrão. Mas nunca era o que ocorria. Pelo menos, não ocorria, não ocorre e não ocorrerá, quando estou falando de um indivíduo intitulado Eu. A cama e o travesseiro são sempre os companheiros de inúmeros pensamentos que, a esta altura da vida, transformam-se em longas-metragens instantâneos.
Pensar é mal humano, não adianta: traz angústia, sensação de nulidade, mostra-lhe uma realidade que nem sempre se quer ver, mas existe, é inevitável. E precisamente esse dia, o pensamento de descrença generalizada me abraçou, descrença da governabilidade sem ética, do desrespeito com o cidadão. As regras estão aí para os mais diversos gostos, ou melhor, as imposições estão aí. Deter o poder nem sempre é sinônimo de obter o respeito da população, eis o problema, se não respeitamos quem nos governa, logo, nada faremos em prol do bem estar coletivo, já que o paradigma é “quem nos governa não o faz”.
Vamos a um jantar em sua casa e, após deleitarmos-nos com a refeição, você se levanta e resolve lavar a louça. Eu, como bom convidado, rapidamente prontificarei-me a ajudá-lo, você zela por seu patrimônio, para o bem coletivo devemos mantê-lo impecável. Com nosso país não é diferente, aliás, não é diferente em termos. Colocamos nossos ‘convidados’ para tomar conta de nossa ‘cozinha’, mas ao mesmo tempo, não levantamos juntos para lavar a louça, agimos como se a casa não fosse nossa, estamos somente de passagem, somos os estrangeiros de nossa própria pátria. O problema é que os políticos se julgam na mesma função, todavia, eles estão realmente de passagem. O corporativismo da política oferta a idéia de que eles precisam apenas angariar votos para umas três campanhas que, garantam uma aposentadoria no mínimo exorbitante e, uma agenda com palestras de altos cachês, para vomitar técnicas administrativas que nunca deram certo, pelo menos, não no Brasil.
Enfim, talvez isso não passe de muito niilismo, mas é esta a impressão que sobrou do país. E o pior, nós, os supostos “jovens” da história, o futuro da nação, já estamos tão contaminados com a mídia, com os padrões e com os ideais que, sucumbimos nossa vontade de viver dignamente para abraçar uma ilusão que não sabemos o que vai nos proporcionar. Como se a vida oferecesse uma saborosa sobremesa após a indigesta refeição que é existir. Alienamos nossos talentos usando uniformes, aceitando nossas restrições e comendo nosso pão, na luta por um modelo de vida que não escolhemos, mas que vivemos.
Eu, você, ele, todos precisamos de um ideal, mas um ideal que diga sim para a vida, não os resquícios de uma verdade que dizem ser um ideal. É melhor ser um jovem morto em uma boa posição? Ou, pensar que esta juventude se tornará decrépita, logo, algo precisa ser feito?
Penso que pior do que viver na prisão é ser livre pela metade. Os que têm consciência disso gostariam de poder ignorar a realidade, para desfrutar de uma felicidade utópica.
Realmente eu aconselho: durma mais, pense menos e ria do presidente a discursar, eu duvido que assim a angústia te abrace como sempre vêm a mim, aliás, quem sou eu para criar modelos de se viver?
Comentários
Você lê, reflete, e conclui um pensamento.
É reciproco... pensar...
Cada qual com seu qual.
Mas se pensar dentro da lei, é liberdade? Hoje temos o livre arbitrio.
Já mataram grandes pensadores, por se manifestarem.Mas esses que se manifestaram, continuam vivos em história, como exemplo.
Será que afinal, vivemos para concluir um pensamento, e então vivê-lo. Para então ser chamado de vida.
O que pensamos, afinal é o que somos.