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O delírio da falta ou uma aprendizagem

Hoje o dia se deu anêmico. As pessoas se abraçaram, as crianças titubearam pelas ruas, os transeuntes perguntaram uns aos outros que horas eram e um coágulo de sangue cresceu como uma doença de vida. No cemitério, uma lápide se desenhara na mesma proporção dos prantos que corriam junto de uma flor vermelha que só agora nascera. Nascera do caos, da incerteza, da obsolescência programada, da constipação da morte que se fazia rubra e sem freio-de-mão, reverberava no ar, num tom esquisito do que só agora é sangue. E a flor, ao tirar sua cor das extintas almas que vivem do vazio da perda, era a flor mais justa, era flor da terra. A vida fazia seu ciclo entre as muitas perguntas que uma morte suscitava - e quem nem uma mãe que beija um filho por amor responderia. Daí sorriam a angústia, a perda, a ausência, a palavra não dita, o afeto não divulgado, o abraço esquecido, o sorriso amarelo, a falta que por horas fora esquecida e por momentos imprecisos se anunciava como o petr
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Encontrando Deus

Já experimentou andar no céu? Lá há algumas nuvens que, quando vistas de perto, tem um gosto seco, como se nelas não houvesse água. Essas nuvens são o mundo a parte, no qual é preciso ter outro tipo de pés para andar. No fundo o céu já é outro mundo. Nele, a ilogicidade do que é terreno já não faz mais sentido. É tudo algodão. E aí ora ou outra as nuvens sofrem também porque são esburacadas, como as ruas. Você pode caminhar e de repente ver um mundo que está caindo. Quando este mundo cai, as pessoas se vão também. E aí o céu não se aguenta em águas d´chuva - e acaba se vendo obrigado a pingar sangue. Um sangue quente, que em meio ao ar gélido sofre uma convulsão da alma. A cor dele ninguém vê. É de um vermelho rubro, meio adocicado, que quando desce fica amargo. A tonalidade é dessas conhecidas, igual à da capa da joaninha. A capa natural mesmo. A joaninha faz de sua capa asas - e enfeite também. É meio parecido com o que o céu faz das nuvens. Da branquidão inexplicável, o céu as trans

Monumento a uma São Paulo chuvosa

Às sete horas da noite desta quinta-feira o Terminal de ônibus da Vila Madalena, na capital paulista, estava vazio. Claro que a ausência era somente de coletivos. Dos mais de dez pontos existentes no complexo, apenas dois continham veículos. A chuva havia vitimado há pouco a terra que leva a garoa no apelido. Nos pontos, a população estava atônita. Munidos de sacolas, mochilas, guardas-chuva ou simplesmente carregando mais um dia de trabalho, transeuntes entreolham-se na tentativa de amenizar a espera e arrancar um sorriso vivo de alguém. A cidade já não está mais em estado de atenção para alagamentos, mas ainda assim os resquícios da água perduram. À exceção da zona Sul, todas as outras estavam sob vigia às 17h. As Marginais não estão alagadas, o Tamanduateí não transbordou, não há caminhões do Corpo de Bombeiros pelas ruas e nem o histérico e inútil barulho das sirenes. Mas ainda assim o receio é o que resta numa população que já perdeu a alma com tanta chuva. Passada meia hora pouco

"Eu te amo" é suprimido pela tecnologia

Até o amor se deu mal. Ao menos é o que mostra um estudo conduzido por um site que faz comparações por aparelhos celulares, o Goog Mobile Phones , que concluiu que os casais estão mais propensos a dizer "eu te amo" por mensagens de texto do que pessoalmente. De acordo com o estudo, divulgado pelo jornal The Guardian, 66% dos entrevistados declaram seu amor por SMS - enquanto apenas 22% prefere dar uma de Don Juan DeMarco pessoalmente. O contato físico está em baixa. Homens mais pegajosos As entrevistadas do sexo feminino mandam em média uma mensagem amorosa por dia. Já os homens chegam a enviar três mensagens diárias, diz a publicação. Além disso, 11% dos respondentes do sexo masculino afirma enviar SMS por se sentirem "culpados" por não passar tempo suficiente com as respectivas parceiras. A pesquisa apontou ainda que 39% dos garotos enviam mensagens por sentirem saudades. Levar um bolo Cerca de 18% dos entrevistados afirmam ter levado um "fora" por SMS.

Álcool já mata mais que HIV, diz OMS

Os alcoólatras de plantão - inclusive este que você agora lê - precisam se alertar. A OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou nesta sexta-feira (11) estudo que aponta o consumo de álcool como causador de quase 4% das mortes em todo mundo - porcentagem maior em relação à da Aids e à da violência. De acordo com o Relatório Global da Situação sobre Álcool e Saúde, cerca de 2,5 milhões de pessoas morrem anualmente por causas relacionadas à bebida alcoólica. Problemas psiquiátricos, males como a epilepsia, doenças cardiovasculares, cirrose e vários tipos de câncer estão atrelados ao consumo de bebidas. A preocupação se estende além das doenças oriundas do álcool, uma vez que o consumo excessivo gera violência, acidentes de trânsito, transtornos familiares e ausências no trabalho, segundo o estudo. Mais renda, mais bebida Países mais populosos dos continentes africano e asiático são apontados com índices maiores de consumo excessivo devido ao aumento da renda da população. "Mundialm

Arte e pesadelo como ferramentas de sedução em Cisne Negro

Não é à toa que o novo filme do estadunidense Darren Aranofsky, Black Swan (Cisne Negro, em tradução literal), tem suscitado tantos burburinhos. Isto porque a sensibilidade do diretor está transposta de forma extrema para as telas na história de Nina Seers (Natalie Portman, favorita ao Oscar de melhor atriz e vencedora do Globo de Ouro e o do Sindicato dos Atores pelo papel), bailarina extremamente disciplinada e perfeccionista escolhida como a Rainha dos Cisnes, numa nova encenação de O Lago dos Cisnes , do russo Tchaikovsky. De antemão, todo o preconceito relacionado ao balé e à dança clássica é desestruturado com a visão hipnótica e perturbadora desenhada na trama. Aranofsky utiliza uma estrutura diferente para elucidar a paranoia sofrida pela personagem, que por várias vezes chega ao terror físico, demonstrando uma busca pelo virginal existente em qualquer atividade artística – num espetáculo estético do cinema. Adentrando um mergulho profundo da psicose humana, o longa se pauta a

Estreia com exemplo de austeridade

O deputado federal José Antonio Reguffe (PDT-DF), que foi proporcionalmente o mais bem votado do país com 266.465 votos, com 18,95% dos votos válidos do DF, estreou na Câmara dos Deputados fazendo barulho. De uma tacada só, protocolou vários ofícios na Diretoria-Geral da Casa. Abriu mão dos salários extras que os parlamentares recebem (14° e 15° salários), reduziu sua verba de gabinete e o número de assessores a que teria direito, de 25 para apenas 9. E tudo em caráter irrevogável, nem se ele quiser poderá voltar atrás. Além disso, reduziu em mais de 80% a cota interna do gabinete, o chamado “cotão”. Dos R$ 23.030 a que teria direito por mês, reduziu para apenas R$ 4.600. Segundo os ofícios, abriu mão também de toda verba indenizatória, de toda cota de passagens aéreas e do auxílio-moradia, tudo também em caráter irrevogável. Sozinho, vai economizar aos cofres públicos mais de R$ 2,3 milhões nos quatro anos de mandato. Se os outros 512 deputados seguissem o seu exemplo, a economia aos