Hoje o dia se deu anêmico. As pessoas se abraçaram, as crianças titubearam pelas ruas, os transeuntes perguntaram uns aos outros que horas eram e um coágulo de sangue cresceu como uma doença de vida. No cemitério, uma lápide se desenhara na mesma proporção dos prantos que corriam junto de uma flor vermelha que só agora nascera. Nascera do caos, da incerteza, da obsolescência programada, da constipação da morte que se fazia rubra e sem freio-de-mão, reverberava no ar, num tom esquisito do que só agora é sangue. E a flor, ao tirar sua cor das extintas almas que vivem do vazio da perda, era a flor mais justa, era flor da terra. A vida fazia seu ciclo entre as muitas perguntas que uma morte suscitava - e quem nem uma mãe que beija um filho por amor responderia. Daí sorriam a angústia, a perda, a ausência, a palavra não dita, o afeto não divulgado, o abraço esquecido, o sorriso amarelo, a falta que por horas fora esquecida e por momentos imprecisos se anunciava como o petr
Já experimentou andar no céu? Lá há algumas nuvens que, quando vistas de perto, tem um gosto seco, como se nelas não houvesse água. Essas nuvens são o mundo a parte, no qual é preciso ter outro tipo de pés para andar. No fundo o céu já é outro mundo. Nele, a ilogicidade do que é terreno já não faz mais sentido. É tudo algodão. E aí ora ou outra as nuvens sofrem também porque são esburacadas, como as ruas. Você pode caminhar e de repente ver um mundo que está caindo. Quando este mundo cai, as pessoas se vão também. E aí o céu não se aguenta em águas d´chuva - e acaba se vendo obrigado a pingar sangue. Um sangue quente, que em meio ao ar gélido sofre uma convulsão da alma. A cor dele ninguém vê. É de um vermelho rubro, meio adocicado, que quando desce fica amargo. A tonalidade é dessas conhecidas, igual à da capa da joaninha. A capa natural mesmo. A joaninha faz de sua capa asas - e enfeite também. É meio parecido com o que o céu faz das nuvens. Da branquidão inexplicável, o céu as trans