Num silêncio esquisito é que queria ler a mim mesmo. Porque o silêncio é isso: tempo seu. E em pensar existir algo tão sublime, como o próprio, nasce o silêncio de si. Tudo no instante. Dedos cegos de lascívia buscam o silêncio; olhares baixos desabrocham o silêncio; respirações atônitas ficam frias e serenas ao brilho do silêncio. Ele é quase compartilhado. Todos o têm! Só o tempo e o silêncio do outro não são teus. Ele se modifica, se metamorfoseia. Por isso não consigo ver o outro em silêncio: quero ver a mim – e então não aceito. Quero a precisão do meu ser no silêncio do outro, e aquela não pertence nem a mim e nem ao outro. É de ninguém. Não a tenho. Mas quero! E aí recebo a frustração. Não transgrido. Não sou um além homem. Farsa, versão, simulacro. Porque não conheço e não respeito o silêncio do outro. E no meu silêncio, que deveria só a mim pertencer, não me percebo. Entro em silêncio para sair de mim – e não para olhar a mim. Erro. E por isso não vivo. E por isso morro. E